domingo, 15 de janeiro de 2012

O fim de um ciclo em 625 palavras

“A república, enquanto coisa pública, essa abstracção feita de pedras vivas, deixa de o ser quando se perde o sentido mobilizador que leva o todo a tocar em cada um, quando os laços que nos comunitarizam enquanto povo deixam de ser sentidos como significações partilhadas. É o aparelho de poder estadual, sem aquela autoridade que vem de quem é autor, por mais poderes que tenha, jamais pode gerar comunidade.”

José Adelino Maltez – Tradição e Revolução Vol. I

Sinto que estamos a chegar ao limite desta definição de república, “rés pública” ou coisa pública, cada vez menos pública ! As gentes já não se sentem Estado, olham para ele como se de uma premissa de “alguns” se tratasse; a memória dos que tombaram contra Junot, Soult e Massena durante o domínio português do cesarismo napoleónico, a memória dos vintistas que lutaram contra o totalitarismo monárquico vigente, a memória dos cartistas que lutaram contra o totalitarismo miguelista, a memória dos setembristas que lutaram contra a arrogância dos cabrais, a memória da geração de 70 que combateu o situacionismo instalado, a memória dos carbonários da rotunda que fizeram a república em 1910 sozinhos e encurralados pelos lanceiros do Rei e pela artilharia de Paiva Couceiro, a memória dos que lutaram ao lado de Humberto Delgado, a memória dos que à direita ousaram combater Salazar como Henrique Galvão, ou à esquerda vivendo na clandestinidade isolados do mundo como tantos militantes comunistas, a memória dos que tombaram pela pátria no CEP na Flandres em 1917 e na guerra de 61 no Portugal ultramarino, a memória dos que fizeram a democracia em 74 e acabaram proscritos como Salgueiro Maia, a memória dos que implantaram a democracia em 75; a memória de todo um povo que sonhou com liberdade e acabou exactamente no mesmo situacionismo em que viveu Portugal a partir dos anos 70 do sec. XIX com o rotativismo…

Cheira a fim de ciclo, e com isso cheira à desgraça; nos fins de ciclo pululam os falsos profetas recorrentemente convertidos em déspotas totalitários, estivemos lá perto em 74 com o PREC, em todas as ocasiões referidas acima acabou assim, o povo revoltado contra os ingleses no fim das invasões napoleónicas, as guerras liberais, a Patuleia, o regicídio, a implantação da república aos tiros, o assassinato do “general sem medo”, as nacionalizações e purgas do PREC com mandatos de captura em branco e ameaça de guerra civil; e não há-de faltar muito tempo até que os ventos da radicalização, carburados pela precariedade nos levem a esse ponto.

A história é circular e nada disto é novo, ignorar a história é ignorar o futuro que está sempre à espreita e mais próximo do que muitas vezes se pensa; o colapso da moeda única e as assimetrias crescentes entre ricos e pobres podem bem gerar uma situação de implosão.

Temos de nos reinventar como modelo de sociedade, o falhanço do maniqueísmo rotativo do pós 25 de Novembro de 75 redundou no corporativismo socialista do universo das clientelas costumeiras, sustentadas pelo aparelho de estado cada vez mais vampiro do suor do nosso trabalho, esquecemos-nos do que era o liberalismo, o valor humano, o valor da iniciativa individual e a liberdade para criar e produzir; vivemos atolados em impostos e austeridade, por cada passo que damos em frente aparece sempre o “Estado dos outros” que dá dois atrás e cobra a factura a quem foi competente !

Menos Estado, menos corporativismo, menos maniqueísmo, menos situacionismo, menos nepotismo ! BASTA !

Façam-nos um favor senhores doutores de carregar pela boca e sigam o vosso conselho: abandonem a vossa zona de muito conforto e IMIGREM JÁ ! Necessitamos de um Portugal de homens grandes e o vosso tempo acabou.

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