sexta-feira, 27 de janeiro de 2012

Jogo de nervos


As apostas na incapacidade de Portugal regressar aos mercados ganham cada vez mais força à medida que o prazo se encurta para o próximo pagamento grego em Março próximo, onde o mundo financeiro aposta firme no incumprimento.

É precisamente no médio prazo que os mercados mais penalizam os juros das obrigações portuguesas, o gráfico abaixo mostra o valor acima dos 21% para as obrigações a 3 anos; pois é no médio prazo que maior parte da nossa dívida atinge a maturidade devendo ser liquidada.
As metas do défice português têm sido sempre corrigidas em alta, a recessão tem diminuído as receitas dos impostos cobrados pelo estado; por outro lado temos 38 câmaras municipais em situação de falência eminente, temos os contratos das PPP's que se têm revelado ruinosos, temos a TAP, CP, RTP, CARRIS, METRO, etc. em estado de prejuízo permanente e temos uma banca fortemente endividada e que é pressionada para manter as despesas desses elefantes brancos em dia, até quando ?

No dia em que a banca cortou o crédito ao governo socialista o mesmo caiu, o dia em que a banca cortar o crédito ao tecido empresarial público também não deve andar longe, e quando isso acontecer, é o estado que tem de assumir essa mesma dívida e aí, os valores do défice irão sofrer uma subida vertiginosa, afastando-se das metas previstas pela UE.

O estado por isso vê-se obrigado a agarrar a única saída que têm, confiar cegamente nas imposições da UE na esperança de apanhar a boleia do resgate Europeu que talvez ainda possa por aí vir... Como ? Austeridade pois claro, já cortaram os salários, já obrigaram as pessoas a trabalhar mais horas, vão reduzir o nº de autarquias, estão a privatizar, aumentam os impostos e eventualmente vão despedir gente em massa na função pública no próximo ano !

O problema é que a economia contrai e não cresce, pior, decresce, diminui a receita e assim o valor dos cortes é absorvido pela diminuição da receita, é um pouco como pescadinha de rabo na boca...

Só exportando é que Portugal resolve este problema, melhorando a sua balança comercial; o peso das exportações representa cerca de 30% quando deveria representar cerca de 50% e para atingirmos este tipo de números necessitávamos de umas décadas, pois não temos riquezas naturais apenas o nosso engenho, e até esse está em rota de emigração incentivado inclusivamente pelo governo o qual não tem alternativa credível para contrariar esse estado de coisas !

Precisamos urgentemente de um plano que recupere a nossa economia pelo lado dos incentivos à exportação e pela valorização do "compre o que é nosso", precisamos também de ter uma sorte imensa, presisamos que a Srª Merkl aprove um plano de resgate europeu em massa como as Eurobons por ex., e precisamos que os mercados reajam de forma positiva e imediata a esse resgate.

Em Setembro de 2013 acaba-se o timing do resgate do FMI, findo esse timing temos de regressar aos mercados externos para vender a nossa dívida; a fronteira que possibilita esse tipo de financiamento coloca os juros a cerca de 7% no máximo; se fossemos hoje aos mercados iríamos pagar mais de 20% no médio prazo e 15% no longo prazo... Ou seja, é quase inevitável uma 2ª vinda do FMI, com mais austeridade e mais sacrifícios, tudo isto com um tempo muito para além de 2013...

A alternativa que muitos apregoam, não pagar, nem pode ser considerada; todos os agentes financeiros públicos entrariam em colapso, o estado teria de se endividar a juros pornográficos para assumir os prejuízos, tudo isso num contexto de desvalorização da nova moeda muito provavelmente superior a 30% o que precipitaria o Banco de Portugal a emitir mais moeda, colocando a inflação em valores que víamos no Brasil e na Argentina há 15 anos... Era a fome meus amigos, literalmente !

Esqueçam a austeridade conforme a conhecem hoje, se perdemos o Euro, transformamos-nos numa Albânia !!

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