quinta-feira, 2 de fevereiro de 2012

Relatos de fim de ciclo - Parte II : Como chegamos aqui ?





Aqui, iniciei um pequeno exercício sobre o situacionismo actual e sobre o que dele penso.

Nesta segunda parte do artigo tentarei explorar como aqui chegou Portugal..

Durante alguns anos, vivemos sob a alçada do guarda-chuva dourado que foi a zona Euro. A moeda forte à sombra da qual relaxadamente ignoramos todos os sinais do que se avizinhavam parecia imune a tudo. Desde os tempos áureos do cavaquismo se construíram neste país à beira mar plantado inúmeras auto-estradas, escolas, universidades, hospitais, subiram-se salários, pensões; estávamos a entrar finalmente no fim da ressaca do 25 de Abril e a colher frutos da tão almejada democracia ocidental pela qual já berrávamos desde os tempos talvez de Fontes Pereira de Melo. Foi precisamente nesse período, na regeneração portuguesa no terceiro quarto do sec. XIX que Portugal depois de viver sob o jugo do absolutismo, seguido pelo domínio Inglês, seguido de duas guerras civis; finalmente respirava o doce ar do progresso, alavancado em obras públicas, o que hoje se chama de mais ou menos "keynesianismo".

Curiosamente (ou talvez não), para que esse progresso fosse atingido, a coroa portuguesa contraiu dívida, em particular junto do seu velho aliado inglês, dívida essa que atingindo a sua maturidade não foi possível pagar atingindo literal e oficialmente a bancarrota em 1891.

Mais de 30 anos de investimento público e economia intervencionada pelo estado, levam-nos hoje a uma situação idêntica; o tal guarda-chuva dourado da zona Euro não resistiu à pressão da crise do subprime americana que levaria à quebra da economia mundial em 2008 com a falência do gigante Lehman Brothers e com a nacionalização de alguma banca do crédito hipotecário americana.

Pela primeira vez na história, ser da zona Euro já não bastava para se ter credibilidade nos mercados de investidores, a solvabilidade dos países começou a ser levada em conta, até porque o eixo franco-alemão, começou a exigir dos seus congéneres Europeus rigor nas contas, coisa que para Portugal tinha sido completamente estranha em particular nos ruinosos anos de governação socrática !

Portugal, que nos anos áureos do "keynesianismo" cavaquista até tinha conseguido atrair algum investimento exterior (a Autoeuropa será o seu exemplo mais feliz), acreditou que os anos dourados durariam para sempre, e nos anos do guterrismo foi pródigo em fazer crescer substancialmente o estado social, criando despesa a um ritmo que o PIB não conseguia acompanhar, sem que isso fosse acompanhado por um crescimento sustentado da economia, ou seja, o ciclo começou a inverter. Foi nos anos 90 que a Europa abriu as suas fronteiras a leste, a vantagem da mão-de-obra barata portuguesa gradualmente começou a desaparecer não só vitima dos preços mais baratos a leste como também duma gradual deslocalização da máquina produtiva ocidental para os países asiáticos.

Portugal dessa forma, começou a tornar-se caro para produzir, perdendo assim gradualmente o investimento exterior, para piorar as coisas foi pródigo em investimentos de utilidade duvidosa como as várias PPP's, auto-estradas, estádios de futebol, aeroporto de Beja, etc.que geraram uma dívida que hoje nos custa a pagar só em juros cerca de 8.000 M€ !!!!!!

Somando isso ao aumento do preço do petróleo, e ao investimento ruinoso em eólicas, energia que para ser viável tem de ser subsidiada pelo estado, Portugal atingiu um ponto de roptura onde foi necessária intervenção externa por parte da UE, BCE e FMI, a famosa Troika !

Resta-nos corrigir os gastos insustentáveis do passado controlando a dívida e reformando a estrutura do estado, baixando os salários nominais; e fazer crescer a economia, para paulatinamente reverter o ciclo negativo em que estamos, reconquistando a confiança dos mercados.

No fim disso tudo, temos também de ser sibilinos e esperar um milagre, ou seja, que a UE e o BCE ou nos troquem os nosso títulos de dívida de qualidade duvidosa e que pagam juros altíssimos por títulos de dívida Europeus (Eurobonds), ou que injectem liquidez no mercado para fazer crescer a indústria exportadora; e resta-nos esperar que isso traga confiança aos mercados, de forma a que os mesmos nos aliviem os juros, libertando-nos das amarras da Troika e dando-nos a autonomia suficiente para voltarmos a ser um país credível no plano financeiro mundial.

CONTINUA...

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